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De Sexta Poética
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   O chacareiro preparou e agora procura um nome para batizar sua sopa. Nela vai frango, batata, inhame, chuchu, cenoura, cebola, alho poró, açafrão e gengibre. E macarrão de letrinhas que lhe sugeriu um nome mas não convenceu. O frango ele podia criar no quintal, mas não, compra no mercado a bandeja com quatro peitos e quando chega em casa separa e congela os pedaços separados. Descongela e cozinha em dois litros d’água com sal, pouco, pois herdou do pai a hipertensão arterial, além de uma unha encravada que no momento não caberia mencionar, mas o chacareiro comete o despudor. As batatas são orgânicas como sói ser pequenas, que os orgânicos prezam as qualidades nutricionais e deixam de lado boas aparências. Mas no mercado escolhe as maiores pra facilitar o descascar. O inhame nem que procure acha grandes e se vira com o que tem. O chuchu também é orgânico e, igual ao convencional, exige um corte minucioso, a casca faz reentrâncias, difícil descascá-lo superficialmente como fez com a batata. A cenoura uma só seria suficiente se daquelas que o Pernalonga mastiga enquanto pergunta What’s up velhinho? Dessas orgânicas, tipo palito, precisa de três ou quatro. Cebolas orgânicas nunca são maiores que médias, picadas, tanto faz. O alho poró o chacareiro ruma para autossuficiência, sempre corta a base deles e põe numa chicrinha, palavra saborosa, com água para enraizar e daí uns dias enterra no canteiro. Já tem vários soltando folhas. Na sopa foi o que ele usou, só as folhas. O talo fatiou no almoço para acompanhar um filé de truta. O chacareiro tem passado bem. O açafrão é produção própria, dá trabalho desencavar, lavar, secar, moer, mas vale o esforço. Paciência conta muito. Tem lá fora uma bacia de tubérculos esperando chegar a hora. E o gengibre? Não é difícil cultivar mas esse, confessa, é colhido já limpo na gôndola do supermercado.
   O chacareiro preparou e agora procura um nome para batizar sua sopa. Nela vai frango, batata, inhame, chuchu, cenoura, cebola, alho poró, açafrão e gengibre. E macarrão de letrinhas que lhe sugeriu um nome mas não convenceu. O frango ele podia criar no quintal, mas não, compra no mercado a bandeja com quatro peitos e quando chega em casa separa e congela os pedaços separados. Descongela e cozinha em dois litros d’água com sal, pouco, pois herdou do pai a hipertensão arterial, além de uma unha encravada que no momento não caberia mencionar, mas o chacareiro comete o despudor. As batatas são orgânicas como sói ser pequenas, que os orgânicos prezam as qualidades nutricionais e deixam de lado boas aparências. Mas no mercado escolhe as maiores pra facilitar o descascar. O inhame nem que procure acha grandes e se vira com o que tem. O chuchu também é orgânico e, igual ao convencional, exige um corte minucioso, a casca faz reentrâncias, difícil descascá-lo superficialmente como fez com a batata. A cenoura uma só seria suficiente se daquelas que o Pernalonga mastiga enquanto pergunta What’s up velhinho? Dessas orgânicas, tipo palito, precisa de três ou quatro. Cebolas orgânicas nunca são maiores que médias, picadas, tanto faz. O alho poró o chacareiro ruma para autossuficiência, sempre corta a base deles e põe numa chicrinha, palavra saborosa, com água para enraizar e daí uns dias enterra no canteiro. Já tem vários soltando folhas. Na sopa foi o que ele usou, só as folhas. O talo fatiou no almoço para acompanhar um filé de truta. O chacareiro tem passado bem. O açafrão é produção própria, dá trabalho desencavar, lavar, secar, moer, mas vale o esforço. Paciência conta muito. Tem lá fora uma bacia de tubérculos esperando chegar a hora. E o gengibre? Não é difícil cultivar mas esse, confessa, é colhido já limpo na gôndola do supermercado.


  Refogou o frango desfiado com a cebola picada, acrescentou os outros legumes e depois ferveu tudo meia hora na mesma água do frango. Dez minutos antes de desligar, para engrossar o caldo e dar um toque literário, juntou o macarrão de letrinhas. O chacareiro nutre a esperança que elas nunca lhe faltem. Quanto ao nomeada sopa, aceita sugestões.
  Refogou o frango desfiado com a cebola picada, acrescentou os outros legumes e depois ferveu tudo meia hora na mesma água do frango. Dez minutos antes de desligar, para engrossar o caldo e dar um toque literário, juntou o macarrão de letrinhas. O chacareiro nutre a esperança que elas nunca lhe faltem. Quanto ao nome da sopa, aceita sugestões.
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[[categoria:Crônicas da pandemia]]
[[categoria:Crônicas da pandemia]]

Edição das 09h01min de 19 de setembro de 2020

  O chacareiro outras vezes demonstrou que seus dotes culinários - assados, grelhados, cozidos, saladas frias, cada dia a mais de quarentena sua lista aumenta. Não era pra menos. O que era pra lá e pra cá, cidade e campo, três dias lá, quatro dias aqui, teve que se fixar, escolheu o melhor. No primeiro dia do outono se mudou de mala e cuia para a chácara, alguns dias depois providenciou máquina de lavar e instalou varais de roupa. Não se ajusta perfeitamente ao figurino, mas o chacareiro lembra do ditado: A necessidade é mãe da invenção. E pra se manter no mesmo universo semântico, lembra também do que dizia sua mãe: tá inventando moda, menino! Inventado e pronto o arremedo de lar, tem aprendido a contemplar o vale do São Bartolomeu com olhos mais descansados, incorporou na rotina os exercícios pranayama, inspira quatro tempos, retém quatro, expira contando até oito e suspende a respiração dois segundos. Tem aprendido a ter a atenção posta dentro de si. Chamas no cerrado o assustam duplamente: pelas árvores, arbustos e gramíneas que viram cinza e uma espécie de amor-próprio que sai chamuscado.

  O chacareiro preparou e agora procura um nome para batizar sua sopa. Nela vai frango, batata, inhame, chuchu, cenoura, cebola, alho poró, açafrão e gengibre. E macarrão de letrinhas que lhe sugeriu um nome mas não convenceu. O frango ele podia criar no quintal, mas não, compra no mercado a bandeja com quatro peitos e quando chega em casa separa e congela os pedaços separados. Descongela e cozinha em dois litros d’água com sal, pouco, pois herdou do pai a hipertensão arterial, além de uma unha encravada que no momento não caberia mencionar, mas o chacareiro comete o despudor. As batatas são orgânicas como sói ser pequenas, que os orgânicos prezam as qualidades nutricionais e deixam de lado boas aparências. Mas no mercado escolhe as maiores pra facilitar o descascar. O inhame nem que procure acha grandes e se vira com o que tem. O chuchu também é orgânico e, igual ao convencional, exige um corte minucioso, a casca faz reentrâncias, difícil descascá-lo superficialmente como fez com a batata. A cenoura uma só seria suficiente se daquelas que o Pernalonga mastiga enquanto pergunta What’s up velhinho? Dessas orgânicas, tipo palito, precisa de três ou quatro. Cebolas orgânicas nunca são maiores que médias, picadas, tanto faz. O alho poró o chacareiro ruma para autossuficiência, sempre corta a base deles e põe numa chicrinha, palavra saborosa, com água para enraizar e daí uns dias enterra no canteiro. Já tem vários soltando folhas. Na sopa foi o que ele usou, só as folhas. O talo fatiou no almoço para acompanhar um filé de truta. O chacareiro tem passado bem. O açafrão é produção própria, dá trabalho desencavar, lavar, secar, moer, mas vale o esforço. Paciência conta muito. Tem lá fora uma bacia de tubérculos esperando chegar a hora. E o gengibre? Não é difícil cultivar mas esse, confessa, é colhido já limpo na gôndola do supermercado.

 Refogou o frango desfiado com a cebola picada, acrescentou os outros legumes e depois ferveu tudo meia hora na mesma água do frango. Dez minutos antes de desligar, para engrossar o caldo e dar um toque literário, juntou o macarrão de letrinhas. O chacareiro nutre a esperança que elas nunca lhe faltem. Quanto ao nome da sopa, aceita sugestões.