Cada partida: mudanças entre as edições

De Sexta Poética
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Cada partida, ganha ou perdida, tem sua história, possibilidades que  viram realidade, algumas opções que trazem bons resultados, outras que aproximam das dificuldades, todas elas redundam numa certa pontuação. Que o transcorrer do jogo guarda alguma relação com este escore final é óbvio, mas relação com determinada pontuação e seu significado na minha vida é claramente estrambólico, se vocês entendem o que seja algo sem pé nem cabeça. 1978. Cheguei aí depois de perder um jogo que começara em vantagem mas que o adversário, com um pouco de sorte e mexidas certas conseguiu reverter a vantagem, me fazendo desistir do jogo, ao propor uma dobra da aposta. Achei que não valia o risco, entreguei os anéis para preservar os dedos. Perdi 10 para não correr o risco de perder 20; poderia ganhar 18 mas não, não acreditei. Mas eis que o adversário se empolgou e me ofereceu revanche. Aceitei. Nessa segunda partida ele cometeu um deslize e tendo ficado com uma forte defesa, por inexperiência abriu mão dela e tentou uma saída improvável. Fiquei numa posição vantajosa e instintivamente concluí,  chegou o momento de eu arriscar, propus dobrar a aposta. A sorte ficou do meu lado, na sequência do jogo comi uma peça dele ele ficou preso na barra, sem poder jogar. Quando conseguiu sair já era tarde, estava consumado o “gamão” (quando não tira nenhuma peça, em vez de 20, nesse caso o perdedor perde o dobro, 40). Cheguei aos 1978 pontos — ou golds, como o aplicativo se refere aos pontos.
Cada partida, ganha ou perdida, tem sua história, possibilidades que  viram realidade, algumas opções que trazem bons resultados, outras que aproximam das dificuldades, todas elas redundam numa certa pontuação. Que o transcorrer do jogo guarda alguma relação com este escore final é óbvio, mas relação com determinada pontuação e seu significado na minha vida é claramente estrambólico, se vocês entendem o que seja algo sem pé nem cabeça. 1978. Cheguei aí depois de perder um jogo que começara em vantagem mas que o adversário, com um pouco de sorte e mexidas certas conseguiu reverter a vantagem, me fazendo desistir do jogo, ao propor uma dobra da aposta. Achei que não valia o risco, entreguei os anéis para preservar os dedos. Perdi 10 para não correr o risco de perder 20; poderia ganhar 18 mas não, não acreditei. Mas eis que o adversário se empolgou e me ofereceu revanche. Aceitei. Nessa segunda partida ele cometeu um deslize e tendo ficado com uma forte defesa, por inexperiência abriu mão dela e tentou uma saída improvável. Fiquei numa posição vantajosa e instintivamente concluí,  chegou o momento de eu arriscar, propus dobrar a aposta. Novamente a inexperiência pesou e a sorte ficou do meu lado, na sequência do jogo comi uma peça dele, ele ficou preso na barra, sem poder jogar. Quando conseguiu sair já era tarde, estava consumado o “gamão” (quando não tira nenhuma peça, em vez de 20, nesse caso o perdedor perde o dobro, 40). Cheguei aos 1978 pontos — ou golds, como o aplicativo se refere aos pontos.


Me deixei ficar com essa pontuação nas ideias por grande tempo. Rememorando aquela época, início da adultice, se existe isso, carteira de motorista recente, dono do mundo. Meu chevette tala larga, roda de liga leve, volante Fórmula 1, banco reclinável, gravador TKR com twitters e woofers, minha namoradinha, meus sonhos dourados… Me deixei ficar buscando na lembrança daqueles dias iniciais do bancário inconvicto alguma coisa, sentimento, estado de ânimo, expectativas, qualquer aspecto que combinasse com as jogadas no gamão. Mas nada, nada além do incógnito rolar dos dados (o não saber do que está por vir não conta, é perene, ontem, hoje e amanhã, sempre).
Me deixei ficar com essa pontuação nas ideias por grande tempo. Rememorando aquela época, início da adultice, se existe isso, carteira de motorista recente, dono do mundo. Meu chevette tala larga, roda de liga leve, volante Fórmula 1, banco reclinável, gravador TKR com twitters e woofers, minha namoradinha, meus sonhos dourados… Me deixei ficar buscando na lembrança daqueles dias iniciais do bancário inconvicto alguma coisa, sentimento, estado de ânimo, expectativas, qualquer aspecto que combinasse com as jogadas no gamão. Mas nada, nada além do incógnito rolar dos dados (o não saber do que está por vir não conta, é perene, ontem, hoje e amanhã, sempre).

Edição das 20h45min de 7 de dezembro de 2021

Cada partida, ganha ou perdida, tem sua história, possibilidades que viram realidade, algumas opções que trazem bons resultados, outras que aproximam das dificuldades, todas elas redundam numa certa pontuação. Que o transcorrer do jogo guarda alguma relação com este escore final é óbvio, mas relação com determinada pontuação e seu significado na minha vida é claramente estrambólico, se vocês entendem o que seja algo sem pé nem cabeça. 1978. Cheguei aí depois de perder um jogo que começara em vantagem mas que o adversário, com um pouco de sorte e mexidas certas conseguiu reverter a vantagem, me fazendo desistir do jogo, ao propor uma dobra da aposta. Achei que não valia o risco, entreguei os anéis para preservar os dedos. Perdi 10 para não correr o risco de perder 20; poderia ganhar 18 mas não, não acreditei. Mas eis que o adversário se empolgou e me ofereceu revanche. Aceitei. Nessa segunda partida ele cometeu um deslize e tendo ficado com uma forte defesa, por inexperiência abriu mão dela e tentou uma saída improvável. Fiquei numa posição vantajosa e instintivamente concluí, chegou o momento de eu arriscar, propus dobrar a aposta. Novamente a inexperiência pesou e a sorte ficou do meu lado, na sequência do jogo comi uma peça dele, ele ficou preso na barra, sem poder jogar. Quando conseguiu sair já era tarde, estava consumado o “gamão” (quando não tira nenhuma peça, em vez de 20, nesse caso o perdedor perde o dobro, 40). Cheguei aos 1978 pontos — ou golds, como o aplicativo se refere aos pontos.

Me deixei ficar com essa pontuação nas ideias por grande tempo. Rememorando aquela época, início da adultice, se existe isso, carteira de motorista recente, dono do mundo. Meu chevette tala larga, roda de liga leve, volante Fórmula 1, banco reclinável, gravador TKR com twitters e woofers, minha namoradinha, meus sonhos dourados… Me deixei ficar buscando na lembrança daqueles dias iniciais do bancário inconvicto alguma coisa, sentimento, estado de ânimo, expectativas, qualquer aspecto que combinasse com as jogadas no gamão. Mas nada, nada além do incógnito rolar dos dados (o não saber do que está por vir não conta, é perene, ontem, hoje e amanhã, sempre).

Partida vai, partida vem, soma e subtrai, e, opa, 2010, a correlação esfuziou. No gamão é nítido o momento quando você deve dobrar a aposta, a vitória é líquida e certa, das duas uma, ou você ganha com gosto de derrota ou triunfa em cima da valentia insensata do adversário. Em 2010 vivi momento correlato, ou eu me tomava nas mãos e seguia meu caminho eu mesmo decidindo por onde seguir, ou não, deixava os dados rolarem, as decisões serem tomadas sem a minha interveniência. Decidi em 12 horas o que faria com os trinta e cinco anos de trabalho. Assinei meu Funcionário-Assunto-Razão, me aposentei.

Duro mesmo é quando você dobra a aposta, certo de que ganhará, mas as coisas não saem como imaginado, os sucessos não sorriem, o adversário aproveita-se da inversão inesperada, dobra sua aposta, e você é obrigado a desistir. É duro. No gamão já suportei algo similar.