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[[Oração do poeta]]
[[Panelinha velha]]
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Fico feliz de esquentar sopa nessa panela
Senhor, dai-nos tempo, força e coragem
Não tanto pela sopa em si,
para tão incansável escansão
receita própria,
Senhor, dai-nos o dom dos decassílabos
combinação chegada depois de muitas mais ou menos,
Permita-nos também versos alexandrinos
mandioca/vagem/cenoura/chuchu e filé moído na faca.
Quando não couber num só verso a intenção
Não pela Célia, meu anjo da guarda,
ensina-nos fazer enjambement
que prepara com maestria,
E quando houver dissonância, perdoa-nos
empregada antiga do final dos anos 80,
Cesura sem censura, deixa-nos fazer
cuidava bem de mim
Senhor não nos condene a anagramas
quando eu morava sozinho no ateliê da 411 Sul
Livra-nos de quaisquer ambiguidades
e que desde 2014 vem um dia,  
 
arruma meu AP, passa minha roupa
Nunca a arte pela arte (estética pura
e faz a comida da semana toda.
sem que se faça útil). Como um poema
Nem pela panela, herança singela de mãezinha,
que ensina, que educa, diz sim, diz não
lembrança gostosa, quentava nela o de comer à noite,
lembra-nos, Senhor, sempre que a poesia
estalava ovo, fazia mexido.
bem antes de ser letra no papel
Não ainda pelo fogão, comprado baratinho junto com o AP.
é um propósito na mente do poeta
Embutido na pia, o proprietário anterior deixou por uns trocados a mais.
Não tanto também pela cozinha toda,
tudo que tenho, o carro na garagem, a namorada dedicada,
uma chácara para os fins de semana, o salário de aposentado,
modesto mas suficiente.
Fico feliz mesmo fazendo essa sopa
por conseguir ficar 15 minutos em pé
esperando a sopa ficar quente.
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[[:Categoria:Nevinho|Nevinho]]
[[:Categoria:Nevinho|Nevinho]]

Edição das 08h49min de 14 de junho de 2019

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POEMA DA SEMANA


Panelinha velha

Fico feliz de esquentar sopa nessa panela
Não tanto pela sopa em si,
receita própria,
combinação chegada depois de muitas mais ou menos,
mandioca/vagem/cenoura/chuchu e filé moído na faca.
Não pela Célia, meu anjo da guarda,
que prepara com maestria,
empregada antiga do final dos anos 80,
cuidava bem de mim
quando eu morava sozinho no ateliê da 411 Sul
e que desde 2014 vem um dia,
arruma meu AP, passa minha roupa
e faz a comida da semana toda.
Nem pela panela, herança singela de mãezinha,
lembrança gostosa, quentava nela o de comer à noite,
estalava ovo, fazia mexido.
Não ainda pelo fogão, comprado baratinho junto com o AP.
Embutido na pia, o proprietário anterior deixou por uns trocados a mais.
Não tanto também pela cozinha toda,
tudo que tenho, o carro na garagem, a namorada dedicada,
uma chácara para os fins de semana, o salário de aposentado,
modesto mas suficiente.
Fico feliz mesmo fazendo essa sopa
por conseguir ficar 15 minutos em pé
esperando a sopa ficar quente.

Nevinho

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