Aventuras de Kafka
I
Numa esquina suja de Praga,
Kafka, observava: um homem,
em frente ao espelho,
que mijava.
Escorria por toda a República,
escoava na praça,
sem denotar a parada.
Não havia uma só moça pudica,
uma velha beata,
um rabino barbudo,
nada o envergonhava.
Mijava em baratas, castelos, papéis e pastas.
Kafka, começou a se preocupar,
pois o mijo não cessava e,
o homem, agora, gargalhava.
Correu pela ponte,
assim que o mijo atingiu a água do rio,
que começou a subir.
II
Do alto da torre igreja,
viu, num morro breve,
uma moça solícita que acenava,
sob a velha porta do albergue.
Mas a água já tomara o vale.
Sobrara apenas a torre, o cume e,
distante a leste, um móvel de madeira.
Kafka titubeou, pensou em desistir,
instante em que lembrou do trabalho por fazer.
Sem temor, nosso autor, nadou até o móvel:
era sua velha escrivaninha que boiava,
então sentiu-se em casa.
III
Sobre a pilha de papéis
e com a mesa à deriva,
por um lado queria a moça,
por outro a própria vida.
Os documentos protocolados,
não podiam ser perdidos,
e a moça estava bela,
como um processo incompreendido.
Remou até o morro sem molhar nenhum papel,
contraiu numa gaveta artigos preventivos,
e correu para o encontro,
que já era fatídico.
Mas se abrumou com a placa do hotel,
acepção de fechado num formato cruel:
o momento está tão fértil,
mas o dia não é útil.