Sexta poética
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POEMA DA SEMANA
Você poderia ser aquele rosto mudo
que do meu lado costumava caminhar
Poderia ser o sol do meu universo
ou a chuva que me umedece e me deixa fértil
Você poderia ser o construtor dos meus sonhos
ou o personagem romântico que nunca se esquece
Poderia ser o jardineiro do meu vergel
ou aquele polinizador fiel de minhas flores
Você poderia ser o bandido que me roubaria de mim
ou o cavaleiro que me domaria na cavalgada
Poderia ser o pianista daquela bela canção
ou o "danseur noble" na execução do nosso adágio
Você poderia ser o tecelão de minha vestimenta
Teceria um manto dourado com meus próprios pêlos
que ao mais leve toque se eriçam antecipando o que estar por vir
ou ser o próprio manto que no meu despir, me aquece
Você poderia ser a face funda e segura do mar de minha concha
ou o caçador de conchas que me cultivaria no arco de seu abdômen
Poderia ser minha fonte de água límpida e cristalina
ou o leito que vem das colinas para meu rio correr
Você que parece tão certo e seguro...
Tão relaxado e misterioso...
Tão frugal e fugaz...
Seus passos de jaguar ninguém pode ver
Você poderia ser isso tudo e o motivo para tudo eu ser
E eu gardaria seu sorriso numa caixinha de papel machê
Seu olhar, na casca do fruto do pau-rei. Enfeitaria-o com flores de ipê
Cuidaria dos seus dias, de suas noites e de seus sonhos
Esculpiria seu rosto pelos rochedos
e guardaria suas mãos em dois lugares:
Uma no meu seio esquerdo
E a outra por entre minhas coxas
E com minhas mãos eu acariciaria seus cabelos
E meus lábios beijariam seus olhos
E meus olhos se fechariam num longo suspiro
E eu me quedaria do lado esquerdo do seu peito
E assim faria todas as noites,
por todos os dias...
Nesta vida e
para sempre!
Inspirado pela música She - Charles Aznavour
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