Brasiléia
A Brasiléia, o épico das multidões!
Ela explica-se a si mesma e, se acaso não vos explicar, basta pagar uma pinga que de bom humor vós ireis entendê-la!
Introdução
Minha terra não tem métrica
Que súbita harmonia
A Brasiléia não é épica
Seja uma ode à alegria
Uma multidão de heróis
Da pátria sem fronteiras
Constrói seu mutirão
À livre moda brasileira
vamos juntos nos fazendo
ao fazer essa canção
soltando fogos, uivos, vivas
à nossa miscigenação
Povos
No princípio éramos povos
De mil nomes línguas terras
Tínhamos nossas mil fés
Lutávamos nossas mil guerras
Araweté, Ashaninka,Yanomami
Karajá, Kaiapó e Guarani
Kaiagang, Kanoê e Banawa
Há muito tempo estamos por aqui
Despertávamos o sol, a lua
Por danças e invocações
Nos contavam as cachoeiras
Segredos das estações
Por séculos aqui vivemos
Com a natureza solidária companhia
florestas e rios, montanhas e mar
muitos perigos e muita alegria
Só há pouco vimos chegar
Em monção, bandeira e missão
Os arcabuzes da lusofonia
Berrando chumbo em tom cristão
Que por Índios nos abreviaram
Logo o nome, a terra, a vida
E em grilhões nos sufocaram
A língua, a fé, a alma perdida
Primeiro chegaram portugueses
Também vieram os espanhóis
Levavam nossas riquezas
Deixavam facas e anzóis
Estados
No começo os portugueses
criaram as tais capitanias
imensas faixas da terra
foram dadas por franquia
Em algumas plantaram cana
noutras botaram café
também cavavam a terra
pra encontrar o que levar
Rios do Brasil
E esse povo tão diverso
atrás de um mundo mais feliz
foi entrando a mata adentro
subindo os rios do país
Árvores do Brasil
Sentidos
Essa terra é muito airosa
tem perfumes e odores mil
atravessando cinco séculos
formou-se o cheiro do Brasil
Pássaros
Nessa terra tem mil pássaros
cantam aqui como acolá
melodias sete notas
sol lá si... dó ré mi fá
Saracura na manhã
colibri no meu quintal
tem rolinha e curió
tem de noite o bacurau
Canarinho cantadô
merencório uirapurú
bemtevi e trinca ferro
tico tico no fubá
Tem sofrê tem azulão
tem nhambú tem tangará
inda canta nas palmeiras
nas floresta o sabiá
Patativa juriti
tempera viola e anu
pintassilgo e pica pau
acauã e murututu
Seriema caburé
cambaxirra jaçanã
tiê sangue alma de gato
mãe da lua e acauã
Aquarela
Se permitis vós a graça
De aqui pintar sua luz
Em formas multicoloridas
Nossa Brasiléia nos seduz
Ao vermelho terra intenso
Tons pastéis vem se mesclar
Ocres, sépias, liláses, ambar
No relevo a se abraçar
Céu azul indescritível
Denso sem começo ou fim
E o crepúsculo horizonte
Casa ao amarelo o carmim
Maravilha se formando
Do arco-íris nos vem brindar
Com os matizes dessa Terra
A nos conduzir e abençoar...
As aves que...
Minha terra inda resiste
no encanto de um Sabiá
cantava alegre em seu swing
mas jaz inerte e calado
pela força do estilingue
O Sabiá mesmo sábio
não sabia que alguém
por absurda tirania
pudesse mesmo acabar
com sua linda melodia
E o outro sem perceber
que assim abafava o canto,
acabava com a beleza
matava um pouco do encanto
das aves que aqui gorjeiam
E não gorjeiam como lá
Lá, em terras d'além mar
nem mais floresta existe
onde não mais se gorjeia,
vive ali um povo triste
nostálgico da natura
contido a cantar seu fado
Foi levado a um Museu
pra toda gente estudar
empalhado olho de vidro
como um símbolo emplumado
Pindorama, das palmeiras
na vitrine o Sabiá
Memória não morrerá.