Aventuras de Kafka

De Sexta Poética
Revisão de 10h22min de 24 de agosto de 2010 por Pietro Roveri (discussão | contribs)
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I

Numa esquina suja de Praga,
Kafka, observava: um homem,
em frente ao espelho,
que mijava.

Escorria por toda a República,
escoava na praça,
sem denotar a parada.

Não havia uma só moça pudica,
uma velha beata,
um rabino barbudo,
nada o envergonhava.

Mijava em baratas, castelos, papéis e pastas.

Kafka, começou a se preocupar,
pois o mijo não cessava e,
o homem, agora, gargalhava.

Correu pela ponte,
assim que o mijo atingiu a água do rio,
que começou a subir.

II

Do alto da torre igreja,
viu, num morro breve,
uma moça solícita que acenava,
sob a velha porta do albergue.

Mas a água já tomara o vale.
Sobrara apenas a torre, o cume e,
distante a leste, um móvel de madeira.

Kafka titubeou, pensou em desistir,
instante em que lembrou do trabalho por fazer.

Sem temor, nosso autor, nadou até o móvel:
era sua velha escrivaninha que boiava,
então sentiu-se em casa.

III

Sobre a pilha de papéis
e com a mesa à deriva,
por um lado queria a moça,
por outro a própria vida.

Os documentos protocolados,
não podiam ser perdidos,
e a moça era tão bela,
como um processo indefinido.

Arrastou-se até margem,
em direção ao compromisso,
mas a ocasião que era fértil,
só abria em dia útil.

IV

Numa biblioteca mal iluminada
na capital da burocracia
longe de Praga e Viena e Europa
um ex-bancário se deleita
com a vida após a morte lenta
dos escaninhos e alfarrábios e dossiês e diretórios

E na anticracia dos bureaus
num nó qualquer da rede aleatória
ele se contenta em acrescentar uma vírgula que seja
à construção do vocabulário mundial