Ida às compras
O chacareiro uma vez por mês vai ao podólogo. Podóloga, que cuidar de pés não é profissão proibida aos homens, mas não há registro de algum que tenha quebrado a interdição tácita. Estaciona na vaga ao lado do semáforo reservada a cadeirante, na CLS 111 e atravessava a rua. Passa em frente e lembra-se do Aradois 50 mg que toma diariamente, dois comprimidos ao dia. As farmácias atuais vendem inclusive remédios, o principal parece ser variedades, ou utilidades, ou secos e molhados, se for pra exagerar. O chacareiro não é cadeirante no sentido literal, foi contemplado com uma artrodese lombar, adquiriu o direito e providenciou a autorização. Pelo menos isso. Saindo de lá, subiu a rua, pegou a via W1, por estranho que pareça esse é o nome da via, no sentido rodoviária e desceu pela entrequadra 109/110 até o balão da 409/410. Ali pega pra esquerda e vai até entrequadra 408/409 pela via L1 (novamente não estranhem) para chegar à L2. Equivalente ao sentido rodoviária vai-se no sentido Esplanada até a 406/407, sul, dispensável dizer, onde entrou num supermercado para levar para a filha na SQS 208 pegou filé de truta e alho poró. Pegou é maneira esnobe pra dizer comprou. Subiu até o balão, em frente aonde nesse dia, uma quarta-feira, tem uma ferina. Pensou em levar também castanhas do Pará e de caju mas não, é muito, se a filha quiser fazer a receita completa, que venha e compre, tenha ao menos esse trabalho. Na volta para a chácara foi a outro supermercado, é meio dia, disfarçou a fome com umas bananas e por isso julgou oportuna a hora, de pouco movimento, é safo, como já se usou dizer. Sempre que para na vaga a mesma sempre, o mesmo vendedor de sacos para lixo repete numa mesma voz cantada, tentando imitar uma lembrança que a mente tenha, “saco pra lixo”. Não quer hoje, o gesto com polegar positivo e o sorriso meio acanhado meio simpático encerra a negociação. Um funcionário do estabelecimento põe ordemM nos carrinhos de compra desocupados que os fregueses, assim como ele mesmo vai fazer daqui duas horas, depois de colocar as compras no porta-malas do automóvel, deixa o carrinho de qualquer jeito, já me serviu não serve mais, adeus. Ele pega um e entra na loja. Outro funcionário, o chachá informa seu nome, Roberto, colocado à porta mede a temperatura dos entrantes, 35 e meio, pode entrar. Se o mostrador digital da pistolinha de plástico usada acusasse 39 graus, o Roberto impediria a entrada? O que ele faria. O chacareiro vai perguntar ao Roberto, na semana que vem.