Copinhos de papel

De Sexta Poética
Revisão de 22h04min de 6 de setembro de 2020 por Nevinho (discussão | contribs)
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Novamente o chacareiro precisou deixar seus afazeres prediletos. Recebeu um aviso pelo aplicativo do celular e foi na 208 resgatar sua encomenda, feita no começo da semana. Saindo da estrada vicinal que leva ao Núcleo Rural Sobradinho dos Melos, coisa de 10 quilômetros chega ao balão que cruza a DF 001, que circunda o Plano Piloto de Brasília, um pássaro de asas abertas, um avião, borboleta, várias imagens podem ser evocadas. O chacareiro tem um veio menos fantasioso e gosta do que disse o urbanista que concebeu o projeto vencedor do concurso que, na década de 1950, definiu o planejamento da capital: “a idéia nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto”. Em meia hora estará passando por esse cruzamento, conhecido à época da construção da capital como Maço Zero, onde foi localizada à rodoviária. Antes porém, logo depois do balão do Paranoa, do lado direito de quem desce a rodovia do tamanduá, poucos conhecem pelo nome a via que liga o entroncamento nas MIs ao Paranoá, passou num viveiro e comprou um saco de terra preta e um saco de cama de frango. Pode-se perguntar por que comprar agora e andar com o carro mais pesado. O chacareiro justifica dizendo que até tem razão, é carregar peso à toa, quer dizer, seria, existe a possibilidade de voltar a passar por aí depois das seis da tarde, o viveiro fecha às 18 horas e, motivo principal, na ida o viveiro está na mão, na volta o viveiro fica na mão contrária, sempre um risco a mais. O chacareiro prefere não dar chances ao azar, sempre que pode é assim que delibera. De mais a mais o peso dos dois sacos no porta-malas do seu Jeep não faz tanta diferença assim.


Ou Roberto foi nome mal inventado, ou estava de folga,ou o Guilherme tomou seu lugar. “Guilherme” é o nome que o chacareiro leu no crachá preso no segundo botão de cima da camisa de tons de verde do rapaz (é o uniforme da empresa), escalado hoje pra tomar a temperatura dos clientes que entram no supermercado. O nome não diz nada da educação da pessoa, mas este Guilherme respondeu ao chacareiro com bem melhor postura do que o outro de posição similar na loja da 406/407 Sul. Guilherme é da loja do Lago Norte. Fica em suspenso a questão: a gerência escalamos melhores para o Lago e os menos preparados para a Asa Sul? Por que? O que já pode ficar assentado é que foi com mais segurança e sobriedade que o Guilherme respondeu; acima de 37,5 o cliente não tem permissão de ingresso. A mesma pergunta, Se a temperatura estiver 40 graus, por exemplo, o que acontece?, o chacareiro fez ao funcionário da 406/407 Sul, cujo nome não se lembra. “Não entra”, com tom desafiador foi a resposta. A resposta não foi totalmente inesperada, foi até previsível. Talvez que a pergunta pareça insólita, e verdade. De fato tanto o Guilherme quanto funcionário o da Asa Sul ficaram meio desconcertados. De todo modo fica comprovada a falta de uma preocupação real, uma estratégia global, algo do gênero. O chacareiro imaginava uma resposta mais profissional, digamos. Nesse caso precisamos chamar uma ambulância para levar o cliente para o hospital ou pra casa, nesse caso o procedimento é acionar nossa brigada da CIPA...Ledo engano.