O Fim do Mundo
“L´avenir, fantôme aux mains vides,/
Qui promet tout et qui n´a rien”
O Futuro, fantasma de mãos vazias/
Que promete e nada tem
- Victor Hugo,As Vozes Interiores “Sunt Lacrymae Rerum”
I
Na escuridão, em minha solidão
Tive em meu íntimo desejos profanos
E oculto em meu mais alto retiro
Decidi definitivamente o que fazer
Destruirei a este mundo e tudo o que sobre ele há
E nada poderá me demover deste propósito.
As leis decididas pelo meu coração são irredutíveis
É inevitável, nada ou ninguém poderá me fazer voltar atrás.
II
O Homem, o que é o Homem ?
O Homem não é um fim em si mesmo, é um caminho
E não perdurará mesmo se gritar para si : “Sou imortal !”
Sua origem é o coração das estrelas, seu fim é o turbilhão do esquecimento
E dos seus Amores e Valores, tão caros,
Não se ouvirão nunca mais falar
Quando Eu os passar de sob estes céus.
E até dos deuses, que criaram à sua imagem e semelhança
Não se ouvirá mais mencionar os nomes
Pois debaixo dos céus só se ouvirá o silêncio dos mortos
E às crianças da Eternidade a quem se negou o auxilio de viver
Descansarão em paz no meu jardim.
III
O Bem e o Mal converterar-se-ão
Em menos do que quimeras
Pois enfim quando eu ao homem fizer passar
A harmonia reinará
[será ?]
IV
Ai de mim, que sou Homem
[Deus ? ] !
Digo-vos , envergonhado,
Escondido, moldei um deus com minhas mãos
Sim,insuflei-lhe vida, e ele veio a viver
E eu, seu criador, me submeti a ele!
Ele, que tirei nos moldes do meu preconceito
E da olaria da minha moral !
V
Vou pronunciar um outro cântico
Que ouvi entre os filhos das Terras Estranhas :
Os deuses fugiram!
Sim,com medo do que acontecerá aos filhos dos homens !
Decidiram partir,e não serem mais atormentados
Pois são demasiados humanos
Para a infelicidade.
Mataram aquele que haviam eleito como o único deus
[e fugiram (para onde não se sabe)]
Disseram:Escondamo-nos e sejamos esquecidos
Talvez não se lembrem de nós, ou que tenhamos existido
E um dia, quiçá, despertemos para um mundo
Que seja
menos
Corrupto.
VI
As máscaras caíram, ai, tão de repente
O que era belo e dócil tornou-se frio e distante
E o que era inocente transformou-se no agente da destruição
De todo o meu ser.
Não há inocentes debaixo dos meus céus
Vejo, ai : Não há salvação para os homens!
VII
Os loucos, poetas e filósofos virão a aclamar este dia
- Chegou nossa libertação!
Os religiosos serão imergidos e afogados
Nas lágrimas de sua própria decepção
E nenhum humano poderá se esconder e achar abrigo
Da minha ira.
Destruirei a todos os homens
Ímpios e bondosos
E a todas as leis e morais encerrarei de vez
E somente os artistas e os inconsequentes
Acharão abrigo fora deste inferno.
Destruirei, destruirei e mais uma vez destruirei
Não terei compaixão dos seres deste universo corrompido
E destruirei mais uma vez
Pois antes de os destruir
Me destruiram e jogaram fora do seu mundo.