Aceita-se sugestão

De Sexta Poética
Revisão de 13h31min de 18 de setembro de 2020 por Nevinho (discussão | contribs)
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  O chacareiro outras vezes demonstrou que seus dotes culinários - assados, grelhados, cozidos, saladas frias, cada dia a mais de quarentena sua lista aumenta. Não era pra menos. O que era pra lá e pra cá, cidade e campo, tres dias lá, quatro dias aqui, teve que se fixar, escolheu o melhor. No primeiro dia do outono se mudou de mala e cuia para a chácara, alguns dias depois providenciou máquina de lavar e instalou varais de roupa. Não se ajusta perfeitamente ao figurino, mas o chacareiro lembra do ditado: A necessidade é mãe da invenção. E pra se manter no mesmo universo semântico, lembra também do que dizia sua mãe: tá inventando moda, menino! Inventado e pronto o arremedo de lar, tem aprendido a contemplar o vale do São Bartolomeu com olhos mais descansados, incorporou na rotina os exercícios pranayama, inspira quatro tempos, retém quatro, expira contando até oito e suspende a respiração dois segundos. Tem aprendido a ter a atenção posta dentro de si. Chamas no cerrado o assustam duplamente: pelas árvores, arbustos e gramíneas que viram cinza e uma espécie de amor-próprio que sai chamuscado.

  O chacareiro preparou e agora procura um nome para batizar sua sopa, aceita sugestões. Nela vai frango, batata, inhame, chuchu, cenoura, cebola, alho poró, açafrão e gengibre. E macarrão de letrinhas que lhe sugeriu um nome mas não convenceu. O frango ele podia criar no quintal, mas não, compra no mercado a bandeja com quatro peitos e quando chega em casa separa e congela os pedaços separados.