Bem te vi

De Sexta Poética
Revisão de 10h51min de 7 de fevereiro de 2017 por Nevinho (discussão | contribs)
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Curiosos os bem te vis. Ou são bem te viram? Certo é que são curiosos. Ano passado cantavam na minha janela: me ni ninho enquanto traziam gravetos. Um certo dia, pararam de cantar me ni ninho... reparei que o ninho que estavam construindo ficara pronto e do seu interior eu ouvia piiiu. Na ilusão de criar uma inusitada familiaridade com o filhote, pensando que quando ele crescesse poderia se lembrar do meu timbre de voz, passei a chamá-lo. Sempre que eu ouvia seu piiiu, eu retrucava me-ni-ninho, mi-nii-niinnnho.

Na minha ilusão, depois de crescido e acostumado aos motores e buzinas e - diferente de mim, não se incomodasse com o rumming que chega do Eixão, ele reconheceria meu chamado: eu cantaria me-nii-niinnnho e ele pousaria no meu parapeito e me faria companhia para um chá da tarde.

Um dia, algumas horas, sei lá, um tempo depois, o piiiu evoluiu para piu piiúú: o menininho, ou o bem-te-vizinho tinha nascido, e aqueles bem te viram logo desapareceram. Vem por outra, durante esse ano, eu ouvia perdido por entre os galhos aquele mesmo canto.

Agora em dezembro, um ano depois, novamente passei a ouvir me ni niinnnho, me ni ninnnho... fiquei feliz até um o dia em que vi o filhotinho pendurado no ninho. Também acontece essas coisas, podem ser atacados por predadores, um gavião qualquer sem solidariedade literária, eles também morrem.

Os poetas gostam de falar dos bem-te-vis, pássaros poéticos, ilustres. Curiosos são os poetas.