Cadeira no quintal

De Sexta Poética
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     O chacareiro gosta dos títulos que encerram em si um enredo, uma narrativa, qualquer narrativa, palavra por sinal muito gasta, desgastada pelo uso politizado que o lado oposto fez para desacreditar as críticas que o oposto do oposto se especializou em arquitetar. Mas o que vem à baila agora nada tem com isso, é a impossibilidade dele sentar naquela cadeira no quintal e ficar observando cada detalhe, sem ceder à tentação de descrever a cena. Cultivava assim seu antigo pendor para os poemas, muitos lhe vieram em situações semelhantes, porém nos dias atuais o agrada deixar que um instinto loquaz se aposse.

     O beija-flor avança e ganha primazia com seu voo estou aqui/agora ali/agora lá, bicorando a pequenina lavanda, riscando veloz para o camarão amarelo, vrrrrr e pousa no galho do ylang-ylang. O chacareiro pede que permaneça vogando o poder afrodisíaco dessa árvore de nome algo oriental, sugestivo de gueixas dançantes. A lembrança dos movimentos sinuosos sugeridos arrastam sua atenção para as ameivas que se esgueiram iridescentes, parentes distantes do tiranossauro, muito distante, mesmo reino, mesmo filo, mas já as classes são diferentes... deixando a taxonomia dos seres vivos de lado e de volta à descrição da cena, elas, as ameivas, se insinuam no gramado, competindo com os tico-ticos pelas formiguinhas e pelos minúsculos mosquitos, que também competem entre si noutro elo da cadeia alimentar. Em seguida das ameivas, calangos, lagartixas et caterva, a atenção ainda presa ao rés do chão, entraram no radar Seres supostamente mais evoluídos, são preás que vigiam com olhadelas rápidas. Dão suas características pequenas corridinhas, obrigando o chacareiro a cometer esse pleonasmo, em seguida fazem longa pausa na sombra do capim limão, como esperassem um tempo para compreendê-lo.

     Mas voltando ao tema, quem mais entende da matéria diz que existem cinco reinos de seres vivos, o das bactérias, o dos fungos, o dos protozoários e amebas, o das plantas e o dos animais. No Reino Monera, o chacareiro se beneficia dos probióticos, ja fez uso de um tal Bi20, terapêutica intestinal. Do Reino Fungi se aproveita de alguns específicos para semanalmente juntar farinha e fermento, amassar, enformar e assar o pão mais gostoso da redondeza. Do Reino Protista se mantem precavidamente distante. Do Plantae, cultiva profundo respeito e mantem relacionamento privado com certas espécies, Mirtáceas, Anonácias, sempre esteve perto delas. Resta o Reino Animal, o chacareiro obviamente está incluído nele, mas aqui o que quer destacar é que, naquela cadeira do quintal, sente-se suserano, parte da nobreza, sentado num trono, morador do mais suntuoso castelo do reino.