Escola Classe 304 Sul

De Sexta Poética
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O chacareiro passou o réveillon de 2021/22 na Vila Triacca, ecopousada próxima de Brasília, na região do chamado “padefe” (PAD/DF, programa de assentamento dirigido do Distrito Federal). No final dos anos 70, o governo começou a distribuir áreas pouco habitadas, terras da União bastante propícias para agricultura, e muitas famílias da região sul do Brasil vieram fazer a vida no Planalto Central. Nos 61 mil hectares, toda a faixa leste do retângulo do DF, irrigados por centenas de córregos das bacias do Rio São Bartolomeu e Rio Preto, tem de tudo: hortifruti, cereais, algodão, até vinícolas. A Vila Triacca é um oásis, uma área de cerrado nativo (cerradão, mata seca e mata de galeria) preservada, cercada de vários pivôs de irrigação com plantações de soja.

O amigo Careca também passou num ambiente bucólico, junto a Natureza e àquele jeito mais simples de levar a vida; viajou para Duartina, pequena cidade de apenas 12 mil habitantes na região oeste de São Paulo, próximo de Bauru, onde mora uma prima da Adriana, sua esposa.

O amigo Vitinho planejava passar na sua casa mesmo, na QI 25 do Lago Sul, próximo à ponte JK. Se organizou para receber irmãos, cunhados, sobrinhos, mas a filha, a poucos dias do Natal, contraiu aquela gripe H3N2, o que alterou todos os planos. Tudo suspenso, passaram em casa Victor, a esposa Claudia e a filha deles, a Vitória.

O Ano-novo do amigo Vavá foi na casa da filha, Thaís. Também estava a família do lado do Bráulio, o genro. Moram numa casa recém construída no novo Setor Habitacional Taquari, a meia subida do Posto Colorado, lugar privilegiado, de lá avista-se todo o Lago e a Asa Norte de Brasília.

Festas de ano novo passadas, o ano de 2022 plenamente instalado, no sábado, dia 15, o chacareiro retomou sua garimpagem habitual, lançou ao grupo Vivaneca uma pergunta, gravou um áudio sem destinatário definido:

— “Eu ia perguntar direto ao Careca mas resolvi dar uma chance aos dois: o Vavá e o Vitinho estudaram na Escola Classe 304?”

O Vavá prontamente respondeu que sim, estudou lá sim.

O Victor nem recebeu a mensagem, ainda em João Pessoa, para onde viajou com a esposa; a princípio, deixando a imaginação o guiar, o chacareiro pensou que ele fora a Paraíba para o aniversário da irmã, pois ela e o marido estariam morando lá. Frustrando a imaginação do chacareiro, ele nem é paraibano, nem mora lá. O casal mora em Brasília, no conjunto 3 da QI 11, no Lago Norte da Capital.

Mas o Careca, confirmando a fama de arquivo ambulante do grupo, lembrou que o Vitinho nunca estudara na escolinha da 304 e que já enviara uma foto da formatura do primário do Victor no Colégio Dom Bosco, cujo paraninfo foi o lendário Padre Elísio. Do Vavá ele lembrou que realmente estudou na 304 e que fez uma passagem pela Escola Classe 103, para depois irem os três estudar no CEMEV.

Além do Padre Elisio (“gente boa, orientava os caras mais punks, batia papo, segurava um pouco a galera, era um padre bacana”), o Careca tirou do seu baú também o nome de outros que naquela época trabalhavam no Colégio Dom Bosco. O Pe Raimundo, apelidado carinhosamente de Padre Marreco, que tocava sanfona no momento da acolhida e o Padre Batuta, que jogava Ping-pong, organizava a mesa. Um parênteses para uma lição de liturgia católica: “acolhimento” é aquele momento pela manhã, nas escolas de tradição católica, em que todo mundo do colégio se reúne para rogar as bençãos para o dia que se inicia. Sobre o padre Elisio, aliás, não se sabe se pouco depois daquela época ou já recentemente, “largou a batina”, como se diz, pediu licença, quebrou o celibato, casou e teve filhos — por coincidência, ainda nesse ano de 2021 andou bebendo umas cervejas com o Vavá, na Banca de Jornal da QI 06 do Lago Norte, ao lado da sua casa.

Mais tarde o Victor esclareceu: “eu estava dentro do avião, não podia ficar conversando com Nevinho nos mínimos detalhes” e afinal confirmou que sempre estudara no Dom Bosco “até a 8a. série, na oitava série levei bomba e fui pra não sei qual colégio, acho que Tiradentes… Tiradentes ou outro nome qualquer daquela porra. E pronto, acabou.” Essa impaciência, na verdade, é com o garimpeiro que o importuna com perguntas minuciosas acerca de detalhes, para ele, irrelevantes. Não está claro que a irrelevância seja dos “mínimos detalhes“ ou do próprio escritor. Seja como for, ao chacareiro, a confirmação do Victor, mesmo obsoleta, para aquele momento bastou. Na verdade,Tiradentes foi o nome posterior do àquela época CEMEV – Centro de Ensino Memorial Evangélico, escola ligada à Igreja Memorial Batista, na 905 Sul. O Careca lembrou ainda que, como o Vitinho, também repetiu aquele ano, e foram juntos para o CEMEV estudarem na mesma sala. Aliás, o Tiradentes consolidou a fama de ser uma escola mais tolerante do que as escolas católicas. Ele também comentou por acaso que a Martha Duzi também foi para o CEMEV/Tiradentes.

A conversa se desviou dos assuntos escolares e foi para tia Vera (desviou-se sem razão aparente, o chacareiro ficou alguns dias afastado da garimpagem habitual e perdeu o fluxo da narrativa, supõe que foi a tia Vera quem matriculou o Vavá no CEMEV) — mulher guerreira, vindo da região Sudeste, conheceu o pai do Vavá numa festinha de aniversário de uma colega sua do Senado Federal, e fez-se companheira fiel do João Florêncio Mafra, colaborando na espinhosa tarefa de completar a educação da trupe Magno, João Maria, Hélio, Vavá e Valtinho. O mais comportado dava nó em pingo d’água.

Por fim, a conversa desviou-se novamente para as namoradas da época: Silvia Helena do Vitinho, Martha do Careca, Tania do Vavá e Mariângela do Nevinho. Seleção! Mas isso é assunto para outro capítulo.