Minha noche: mudanças entre as edições

De Sexta Poética
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(como era pra ser)
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A barca laranja que curvava a esquina sem freio, fazendo a respiração dos bares pausar um instante, atentou simultaneamente contra nossas vidas.
A barca laranja que curvava a esquina sem freio, fazendo a respiração dos bares pausar um instante, atentou simultaneamente contra nossas vidas.


Instantes antes do episódio, ela vinha caminhando pela rua e sua imagem, junto à mudança do semáforo, deteve meu movimento.
Instantes antes do episódio, ela — a garota — vinha caminhando pela rua e sua imagem, junto à mudança do semáforo, deteve meu movimento.


Parou ao meu lado, olhou determinada para o infinito enquanto as gotas da garôa tocavam sua pele pela, talvez pela primeira vez.
Parou ao meu lado, olhou determinada para o infinito enquanto as gotas da garôa tocavam sua pele pela, talvez pela primeira vez.


Passado o susto e o sorriso desdenhoso da morte certa, virei-me a ela e comentei, misturando surpresa e agradecimento: --Queria nossas cabeças!
Passado o susto e o sorriso desdenhoso da morte certa, virei-me a ela e comentei, misturando surpresa e agradecimento: —Queria nossas cabeças!


Pareceu-me que ela sorria em resposta, emitindo algum som de concordância. E com as mãos nos bolsos apertados da calça jeans, intervenho novamente: --Voltando para casa?
Pareceu-me que ela sorria em resposta, emitindo algum som de concordância. E com as mãos nos bolsos apertados da calça jeans, intervenho novamente: —Voltando para casa?


Ela me responde num castelhano claro, articulado...
Ela me responde num castelhano claro, articulado...


--Perdón, ¿qué dijiste?
—Perdón, ¿qué dijiste?


As batidas aceleradas que vinham se acalmando foram assim superadas, por uma razão mais brilhante, morena e altiva, de jaqueta de couro preto e camisa verde presa à cintura.
As batidas aceleradas que vinham se acalmando foram assim superadas, por uma razão mais brilhante, morena e altiva, de jaqueta de couro preto e camisa verde presa à cintura.

Edição das 01h36min de 29 de abril de 2011

Esta noche conheci uma linda garota enquanto quase morríamos.

A barca laranja que curvava a esquina sem freio, fazendo a respiração dos bares pausar um instante, atentou simultaneamente contra nossas vidas.

Instantes antes do episódio, ela — a garota — vinha caminhando pela rua e sua imagem, junto à mudança do semáforo, deteve meu movimento.

Parou ao meu lado, olhou determinada para o infinito enquanto as gotas da garôa tocavam sua pele pela, talvez pela primeira vez.

Passado o susto e o sorriso desdenhoso da morte certa, virei-me a ela e comentei, misturando surpresa e agradecimento: —Queria nossas cabeças!

Pareceu-me que ela sorria em resposta, emitindo algum som de concordância. E com as mãos nos bolsos apertados da calça jeans, intervenho novamente: —Voltando para casa?

Ela me responde num castelhano claro, articulado...

—Perdón, ¿qué dijiste?

As batidas aceleradas que vinham se acalmando foram assim superadas, por uma razão mais brilhante, morena e altiva, de jaqueta de couro preto e camisa verde presa à cintura.

Refiz minha pergunta em alto e bom português, e um breve diálogo seguiu-se enquanto seguiam-se nossos passos ladeira abaixo.

Soube dela recém chegada a São Paulo e que voltava para a nova casa. Ofereci-lhe as boas vindas hospitaleiras de todo bom brasileiro. E ainda, viera morar aqui a trabalho, chegando já com função designada.

Mas assim como uma esquina nos introduziu e outra nos manteve juntos, a terceira esquina nos separou.

E segui descendo enquanto ela afastava-se dobrando à esquerda, buscando no imaginário e na razão um significado para a breve presença daquela criatura encantadora em minha noche.

Agora, já consciente de tantos significados, penso: como terá sido a noite dela?