Para Ariel Rivanadeira

De Sexta Poética
Revisão de 10h52min de 17 de maio de 2009 por Nevinho (discussão | contribs)
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  1. O que tenho a dizer é que vale a pena perseverar. E acho que sempre vale a pena, mesmo que às vezes não resulte em sucesso. De qualquer modo, sei que poderei dizer: "O meu sucesso é ter perseverado"...
  2. Não sei se tenho talento suficiente e não sei qual a minha predisposição para escrever um livro em prosa. Tenho predisposição quase inata para escrever poemas, estilo mais próximo da poesia.
    No texto em prosa a poesia está mais diluída. O poema não, é expressão direta de poesia, não busca enredar o leitor numa trama poética. O poema dá o bote e vai direto ao cerne. A estratégia é dar pistas e conseguir surpreender a cada verso.
    Um texto em prosa deve recriar situações para envolver o leitor e levá-lo a descobrir paulatinamente a poesia incrustrada na vida.
  3. Sim, tenho síndrome de atropelamento. É tanto pra falar que as palavras atropelam-se, as idéias velozes chegam e vão embora antes de formuladas em frases coesas.
    Eu invento alguém assim como eu que goste de pensar em decassílabos, que estou certo não me sabotará e que quando não houver lógica no que eu digo ele entenda e faça dos rascunhos belos textos.
  4. No suor dos rostos vejo brilho poético / Dos bares, das oficinas escuras / busco a matéria prima literária...
    Em 1985, para realizar o projeto final do meu curso de cinematografia na Universidade precisávamos fazer um roteiro de um documentário na rodoviária de Brasília _ tarefa indicada pelo Professor de cinema da UnB Vladmir Carvalho.
    No ano anterior eu havia conduzido um seminário em sala de aula para o Professor Clodo (do grupo musical Clodo, Clésio e Climério) baseando-me no livro A Coragem de Criar, de Rolo May.
    Em resumo, o que Rolo May ensinava é que a criatividade é fruto da experiência concreta do criador e do compromisso que ele assume com a realidade. Com isso em mente, fui à rodoviária e acabei desenvolvendo o roteiro do filme Infância, baseado no processo fotográfico adotado pelo lambe-lambe (fotógrafos ambulantes), pontuando metaforicamente fatos e acontecimentos de Brasílai e do Brasil.
    Assim, o fatos do freguês vestir o paletó, pentear o cabelo, apertar o nó da gravata estavam relacionados à fase de construção de Brasília. Quando o fotógrafo dispara o obturador da câmara era relacionado à inauguração da cidade, em 1960, e assim por diante.
    O roteiro ficou bom, mas ainda faltava algo que eu não sabia o que era, mas sabia que só podia ser encontrado na realidade do Lambe-lambe, da rodoviária, de Brasília ou do Brasil. O projeto ficou em stand by, engavetado, esperando...
    Um dia, lendo um suplemento do Correio Brasiliense sobre o projeto Bem-te-vi, idealizado pela cineasta Tânia Quaresma, li uma entrevista com o Poeta Ferreira Gullar e soube que ele fora o primeiro Diretor Presidente da Fundação Cultural do Distrito Federal. Era a peça que faltava para o mosaico que eu estava compondo.
  5. O risco de escrever uma autobiografia é não saber dosar a emoção.
    Meu medo é me perder em detalhes muito significativos pra mim que não sejam interessantes pra mais ninguém. Como a visão dos flamboyants na rua do Setor Comercial Sul, saindo do Sarah Kubitscheck naquele 15 de dezembro de 1981. No final da primavera as árvores estão esbanjando um verde intenso e as flores vermelhas fazem um contraste maravilhoso, uma homenagem à liberdade e a mim que passara um mês e meio internado no Sarah.
    Ou como a minha chegada na SQS 211, onde me aguardavam toda minha família e fui recebido com fogos pipocando no céu e bandeiras do flamengo, meu time de coração. Alguns momentos que me vêm com forte apelo para serem relatados:
    o Zeca, irmão do Bady, foi no Sarah me levar uma foto na 304 Sul, eu levantando a taça de um capeonato de peladas;
    meu pai comigo no Conjunto Nacional e eu de bengala reaprendendo a andar;
    quando superficializei depois de 57 dias em estado de coma, vi meu amigo Milton Ruy olhando-me lívido, um olhar perdido em sua própria condição de neurologista impotente diante da situação;
    meu pai resignado respondendo "compreendo, compreendo..." no momento da chegada ao Hospital Sarah;
    a imagem confusa da Mariângela com máscara protetora falando "Seu danadinho, deixou minhas fotos na gaveta, né?;"
    deitado na maca no consultório da fonoaudióloga Dra. Nólia retomando contato comigo mesmo..."agora sente seu tornozelo, sente o tamanho, o espaço que ele ocupa...;
    Etecetera, etecetera...
  6. É preciso paciência. Quando quero escrever uma torrente de pensamentos e temas e idéias me invade. Pedaços de frases significativas aparecem e vão embora. Causa frustração e sentimento de inadequação. Vou me lembrar novamente daquelas palavras, daquele ritmo, aquele pormenor? É Preciso um "ritual de entrada", todo dia uma cerimônia para reiniciar o trabalho de escrever.
  7. ...
  8. ...

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