Sei nell Anima

De Sexta Poética
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Naquela Noite, Sei nell Anima...


Não sei direito como contar o que aconteceu naquela noite...se foi um sonho, se foi um desses ocorridos na vida, um instante, um olhar,uma sensação que ficou cravada em minha retina.Naquela noite o universo conspirou, um raio de tempo que é trazido à memória por uma brincadeira manhosa da rotina...tocou no rádio aquela música...fui pego de surpresa e quase desaprendi a passar a marcha no carro, fiquei bobo e deitei a cabeça no Santo Antonio,meus olhos se fecharam, assim no meio do transito da cidade infinita, não pude conter,marejaram, meus lábios se abriram num sorriso involuntário... e recordei... Naquela tarde, saí tarde do trabalho, parei num baretto,tomei um lambrusco geladíssimo para acalmar a sede,saltei sob o Sol impiedoso da cidade conhecida como a Rinha sem Enfeites e fui ganhando meu caminho por entre as vespas, guiadas por insanos, como só os italianos sabem guiar ...todo dia era meu caminho passar pela Catedralle, suas colunas de diversos estilos, os afrescos, mas não eram as telas de Rubens que chamavam a atenção, era a restauradora que ali trabalhava, dependurada nos andaimes,misturando as tintas na palheta,o carmim azul vindo da grécia o ocre persa simplesmente poesia em pigmentos ...mas... e eu de gracejo, lhe acenava e gritava -Buon giorno ragazza!!! Sim... bobo ... mas quem pode reprimir um instante de alegria e espontaneida-de?E se bobo, porque ela baixava os óculos escuros, me fitava e com toda a força do alterego feminino e tentava reprimir aquele sorriso que como uma flor que desabrocha nascia contra a vontade no seu rosto?... Assim haviam sido os dias , como folhas ao vento, eu descia a rua, gritava bom dia, era respondido com um sorriso, já não mais involuntário mas com a-quele ar de quem diz ...seu bobo...Ma che scemo! Naquela noite, nas andanças noturnas que eu fazia perto da minha casa, fui encalhar num bar, um barzinho Piccollo Mondo, cujo som era dado pelo grego velhíssimo que entoava antigas canções italia-nas enquanto sua mulher servia vinho à vontade...mas de repente...Buon giorno ragazzo!Não era possível, o que eu faria?Qual frase feita, o que dizer? Ela não es-perou, sentou-se!Como teriam sido os americanos en-trando no Japão rendido?E começamos a falar frivolidades, a tela que ela restaurava, o que eu fazia perdido no mundo, disse que a procurava...seria interessante fazer um estudo sobre o que se diz, o que um homem tenta dizer à uma moça extremamente bonita que controla completamente a situação...brinquei de falar a verdade...e nós rimos, rimos, bebemos... Quando falamos de musica, o papo bateu, fala-mos e ela me disse que naquela noite haveria um show da Gianna Nannini! Fomos, voamos, talvez eu a tenha abraçado, ou ela a mim, coisa de bêbado, bêbado nada, sentir seu corpo, foi magnético e conto que ela ainda tinha o aroma das matizes que usara naquela tarde, estava tonto quando chegamos ao show, milhares de pessoas, a cantora longínqua, a musica me levava, levava a ela, dançamos, cantamos.... Esta musica que agora toca, que já esta no último acorde...como descrever?...é claro, aos toques dos primeiros acordes, já se ouviam os gritos histéricos da multidão; todos pulavam ritmicamente, fazia calor, você pulava e agarrava minha mão, girou sob o meu braço, girei sob você, eu te olhava, te amava, te queria, queria meu rosto deslocando seus óculos pretos de aro largo, queria meu nariz perdendo-se nos teus ca-belos, queria descobrir o sabor da sua boca, e a musi-ca girava, cantava, rodava, e pulamos, você me a-braçou, eu tonto fui para traz, e de repente, a música como um milagre entrou em seu segundo refrão, mais de um milhão de vozes começaram a gritar, e neste momento, a cantora como que atingida pelas vozes, numa explosão de emoção parou de cantar e o coro daquela noite italiana, noite genovesa, cantou num estridor, cantou para sempre, foi nesse momento te olhei, nos olhamos, sua boca articulava, Sei nell anima e gli ti lascio per sempre!!!Cantava com a minha, te a-bracei, meu braço em tua nuca, meus olhos se perde-ram nos seus enquanto pulávamos juntos, e seu corpo perigosamente atado ao meu, inizio tutto con te non ti serve um perche, cada vez mais atados nos abraça-mos com pernas, com braços e minha boca agarrou violentamente a sua, nos beijamos, sob o coro espe-tacular, enquanto a própria cantora perdia a voz e chorava sendo testemunha daquela multidão que passados dias do grande ataque terrorista, cantava pela vida, cantava pela paz, por ela por nós, por vo-cê, chorei, chorava, beijava, cantamos nossas tristezas de guerra, e pulamos unidos pelo resto do show da madrugada e da vida... vado punto e a capo vedrai...

   Acaba a musica, entra um locutor, fala de impostos, corrupção, eu estou a chorar...pelo momento perdi-do?...não, mas pela emoção de um momento vivido...nunca mais nos encontramos...som de buzinas, engato a marcha, o carro segue seu caminho....Sei nell anima, e gli ti lascio per sempre

(Você está na minha alma e ali ficará para sempre!)

                                                       Callia