VIVANECA — introdução: mudanças entre as edições

De Sexta Poética
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Ainda se adaptando ao seu avatar chacareiro, ele achou de se entregar ao trabalho de relatar as memórias desses quatro personagens, quatro meninos de Brasília, sessentões que de certo modo compõem um retrato da geração que cresceu ouvindo o ranger das betoneiras girando cimento, o reco-reco dos serrotes e o bate-bate dos martelos, enfim, viram a nova capital sair do chão e se tornar a cidade de três milhões de habitantes que é hoje.
Ainda se adaptando ao seu avatar chacareiro, ele achou de se entregar ao trabalho de relatar as memórias desses quatro personagens, quatro meninos de Brasília, sessentões que de certo modo compõem um retrato da geração que cresceu ouvindo o ranger das betoneiras girando cimento, o reco-reco dos serrotes e o bate-bate dos martelos, enfim, viram a nova capital sair do chão e se tornar a cidade de três milhões de habitantes que é hoje.
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[[Categoria: Crônicas da pandemia]]
[[Categoria:Vivaneca]]

Edição atual tal como às 20h46min de 26 de março de 2022

A ida do chacareiro à cidade hoje foi especial. É sempre um refrigério para a alma a parada para abrir a porteira do sítio e contemplar tudo que está deixando pra trás, todo o vale do São Bartolomeu; aliás, antes do Rio São Bartolomeu, dá pra ver o reflexo das águas da Lagoa Bonita, onde nasce o Ribeirão Mestre d’Armas, que depois de se encontrar com o Ribeirão Pipiripau, vai formar o Rio São Bartolomeu, e consequentemente o vale. É bom saber que o que fica, fica esperando seu retorno. Foi direto pra 208 Sul, molhar as plantas da filha que está viajando. Até aí nada de especial, depois é que veio o melhor, foi encontrar-se no Beirute com os amigos da 304, Vitinho, Careca e Vavá. A última vez que se viram foi em fevereiro de 2020, alguns dias antes do início do distanciamento forçado pela pandemia. Nesses dois anos até ensaiaram se encontrar para jogar bolinha de gude, mas não deu certo. Não importa, deu certo hoje. Amigos são assim: dois anos sem se verem e quando se veem parece que se viram ontem. A mesma descontração, as mesmas alegrias juvenis revividas.

Os três mais o narrador formaram o VIVANECA – iniciais de Victor, Vavá, Nevinho e Careca. O Careca é o mais velho do grupo. Quando ele fez 60 anos planejou uma festa para comemorar a data e criou um grupo no WhatsApp com o objetivo de congregar e organizar a celebração, que aconteceu no Setor de Rádio e Televisão Sul, Edifício Design Center, num lugar chamado Chocolat Glacé. O Vavá embarcou na ideia e sugeriu para o Careca a criação de outro grupo no WhatsApp só com os quatro “mais chegados”. Isso foi feito em 26 de fevereiro de 2018. O primeiro encontro dos quatro amigos aconteceu um mês depois, no dia 23 de março, na cafeteria Ernesto, na 115 Sul (especificar a Asa soa desnecessário, pois para aqueles meninos, força de expressão, ainda não existia Asa Norte). Depois desse primeiro encontro, várias vezes os velhos amigos se encontraram para baterem papo e rirem das lembranças da infância e adolescência.

Vitinho, Victor Guimarães Vieira, chegou em Brasília em julho de 1960 aInda bebê no colo da mãe, Ocirema Guimarães Vieira, a Dona Nanã. O pai, o cardiologista Dr. Luciano Vieira chegara três meses antes para a inauguração da Capital, em abril daquele ano, acompanhando o pai, o Senador Heribaldo Dantas Vieira, eleito por Sergipe nas eleições de outubro de 1958.

Careca, Carlos Roberto Borges Mota também veio do Rio de Janeiro. Tem uma memória espantosa. Veio tomando aqueles sucos de saquinho que eram guardados na geladeira, na parte da frente dos lendários ônibus amarelinhos da Itapemirim, e lembra ainda a tarde chuvosa do verão Brasiliense de 1966 em que o ônibus pegou o Eixão, “a cidade cinza como a gente conhece”.

Vavá, Wagner Câmara Mafra é irmão do mais novo que ele Waltinho e dos mais velhos que ele Hélio, João Maria e Magno. O Vavá e os irmãos mais velhos chegaram na Capital em março de 1966. O pai deles, o técnico em radiologia João Florêncio Mafra viera para o Planalto Central somar-se à equipe que colocou em funcionamento a radiologia do HDB — Hospital Distrital de Brasília. Veio, arrumou a vida e foi no Rio Grande do Norte buscar a prole.

O Nevinho, apelido de Névio Carlos de Alarcão não veio para Brasília, Brasília é que veio até ele. Obviamente não vai nisso nenhuma intenção de se vangloriar, antes pelo contrário, tem plena consciência de que a transferência da capital da República para o Planalto Central do Brasil veio aproximá-lo da Civilização. Nasceu na singela Rua João Quirino, rua da antiga prefeitura de Planaltina, no até então pouco conhecido Estado de Goiás, um ano e meio antes da inauguração da nova capital.

Ainda se adaptando ao seu avatar chacareiro, ele achou de se entregar ao trabalho de relatar as memórias desses quatro personagens, quatro meninos de Brasília, sessentões que de certo modo compõem um retrato da geração que cresceu ouvindo o ranger das betoneiras girando cimento, o reco-reco dos serrotes e o bate-bate dos martelos, enfim, viram a nova capital sair do chão e se tornar a cidade de três milhões de habitantes que é hoje.