Imaginação x inspiração: mudanças entre as edições

De Sexta Poética
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(um dia na vida da imaginação (Desafio Literário))
 
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{{Comentário}}<poem>
Nesta morada habitam paz, ternura,
Nesta morada habitam paz, ternura,
curiosidade, dúvidas, razão.  
curiosidade, dúvidas, razão.  
Moram uns ódios, acho, uns medos, juro,
Moram uns ódios, acho, uns medos, juro,
e uma doida: a imaginação.  
e uma doida: a imaginação.  
 
Começa o dia: a louca acorda cedo.  
Começa o dia: a louca acorda cedo.  
Os outros inda dormem, ela não.  
Os outros inda dormem, ela não.  
Me assobia uns sonhos em segredo,  
Me assobia uns sonhos em segredo,  
bordando estrelas sobre meu colchão.  
bordando estrelas sobre meu colchão.  
 
Mas nem ligamos para seus delírios,
Mas nem ligamos para seus delírios,
eu e os outros. Acordamos, finalmente.
eu e os outros. Acordamos, finalmente.
Linha 21: Linha 23:
Ela responde, séria: “Nada, nada.
Ela responde, séria: “Nada, nada.
É que tinha umas sombras no chuveiro...”
É que tinha umas sombras no chuveiro...”
 
Já vi que vai zoar o dia inteiro.  
Já vi que vai zoar o dia inteiro.  
Mas estou conformada: tudo bem.   
Mas estou conformada: tudo bem.   
Linha 29: Linha 31:
faz da linhaça alpiste,
faz da linhaça alpiste,
castelos de torradas.  
castelos de torradas.  
 
Sobre meus ombros, ri lendo o jornal.  
Sobre meus ombros, ri lendo o jornal.  
Mergulha em minha xícara,
Mergulha em minha xícara,
Linha 41: Linha 43:
quem me sustenta:
quem me sustenta:
é dela, enfim, que vivo.  
é dela, enfim, que vivo.  
 
Subo para trabalhar.
Subo para trabalhar.
(Se eu tiver sorte, ela me escreve um livro.)
(Se eu tiver sorte, ela me escreve um livro.)
 
Por tudo e pelos nadas agradeço.
Por tudo e pelos nadas agradeço.
O livro ainda está bem no começo,  
O livro ainda está bem no começo,  
mas sei que posso, sempre, confiar.  
mas sei que posso, sempre, confiar.  
 
Trabalhamos, brigamos, competimos.  
Trabalhamos, brigamos, competimos.  
 
De bom humor, a louca faz uns mimos,  
De bom humor, a louca faz uns mimos,  
me brinda com idéias delirantes
me brinda com idéias delirantes
– que amanhã, ok, levo adiante.  
– que amanhã, ok, levo adiante.  
 
Sobre o teclado, a imaginação
Sobre o teclado, a imaginação
vê em minhas mãos um dinossauro:
vê em minhas mãos um dinossauro:
o dedo médio é a cabeça.  
o dedo médio é a cabeça.  
 
Mas eu também estou em extinção,  
Mas eu também estou em extinção,  
eu sei. A louca não:  
eu sei. A louca não:  
Linha 65: Linha 67:
Quando delira,
Quando delira,
a louca está feliz.  
a louca está feliz.  
 
A inspiração, que é minha outra lira
A inspiração, que é minha outra lira
de sonhos e brinquedos, cordas tensas,
de sonhos e brinquedos, cordas tensas,
Linha 75: Linha 77:
“Agora é hora
“Agora é hora
de ver o sol se põr.”
de ver o sol se põr.”
 
Eu não queria ir, mas a idéia me tenta.  
Eu não queria ir, mas a idéia me tenta.  
(No fundo, bem no fundo, a louca é um amor.)
(No fundo, bem no fundo, a louca é um amor.)
 
À noite, depois de duas horas de TV,  
À noite, depois de duas horas de TV,  
ela me diz: “Eu sou muito melhor!  
ela me diz: “Eu sou muito melhor!  
Linha 85: Linha 87:
Espera um pouco, só.
Espera um pouco, só.
Você sabe que sou obediente.”
Você sabe que sou obediente.”
 
A louca da imaginação se impacienta e mente:
A louca da imaginação se impacienta e mente:
“Se você não vier, eu vou embora!”  
“Se você não vier, eu vou embora!”  
Suspiro e obedeço, novamente.  
Suspiro e obedeço, novamente.  
 
A louca nem espera para ver.  
A louca nem espera para ver.  
Confia em seu poder e vai em frente.  
Confia em seu poder e vai em frente.  
 
Vamos todos juntos para a cama.  
Vamos todos juntos para a cama.  
De madrugada, a louca é uma lente
De madrugada, a louca é uma lente
Linha 100: Linha 102:
uns amores que tive, umas desesperanças,
uns amores que tive, umas desesperanças,
aquilo que inda quero, o que vou ter.  
aquilo que inda quero, o que vou ter.  
 
Ela me pega no colo e me aconchega:  
Ela me pega no colo e me aconchega:  
“Não pense nisso, não. Por hoje, chega.  
“Não pense nisso, não. Por hoje, chega.  
Amanhã começamos outra vez”.  
Amanhã começamos outra vez”.  
 
A sensação, por fim, de bem-estar.
A sensação, por fim, de bem-estar.
 
Eu espero e confio, confortada.  
Eu espero e confio, confortada.  
Sem ela, quem sou eu? Um zero. Um nada.
Sem ela, quem sou eu? Um zero. Um nada.  
 
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==p.s.==
==p.s.==
Explicação: Claro q escovo os dentes ao acordar, como todos os habitantes humanos do mundo q se considera civilizado. Mas se a ordem das ações fosse fiel à realidade, "esbalda" e "lauda" ficariam mto distantes... Já "espreguiço" e "isso" não são afetados, trocando a ordem.  
Explicação: Claro q escovo os dentes ao acordar, como todos os habitantes humanos do mundo q se considera civilizado. Mas se a ordem das ações fosse fiel à realidade, "esbalda" e "lauda" ficariam mto distantes... Já "espreguiço" e "isso" não são afetados, trocando a ordem.  
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Abraço!
Abraço!


--[[Usuário:Betty VH|Betty VH]] 18h33min de 30 de Abril de 2010 (UTC)
{{Comentário}}[[Categoria:Betty VH]]

Edição atual tal como às 17h10min de 30 de abril de 2010


Nesta morada habitam paz, ternura,
curiosidade, dúvidas, razão.
Moram uns ódios, acho, uns medos, juro,
e uma doida: a imaginação.

Começa o dia: a louca acorda cedo.
Os outros inda dormem, ela não.
Me assobia uns sonhos em segredo,
bordando estrelas sobre meu colchão.

Mas nem ligamos para seus delírios,
eu e os outros. Acordamos, finalmente.
Faço uns alongamentos, sento em frente
ao micro, onde digito algumas laudas
que mando a um cliente.
Espreguiço.
Só então escovo os dentes...
É quando a doida da imaginação se esbalda:
De repente me grita: “O que é isso?!”
“Isso o quê?”, pergunto, atordoada.
Ela responde, séria: “Nada, nada.
É que tinha umas sombras no chuveiro...”

Já vi que vai zoar o dia inteiro.
Mas estou conformada: tudo bem.
 
Eu vou tomar café. Os outros – só assistem.
A louca vem,
faz da linhaça alpiste,
castelos de torradas.

Sobre meus ombros, ri lendo o jornal.
Mergulha em minha xícara,
que fica
instantaneamente povoada
de uns goles tortos que engulo sem receio:
conheço a louca. Ela é assim meio
destrambelhada, tonta, desatenta,
mas nunca quis meu mal.
A louca é, afinal,
quem me sustenta:
é dela, enfim, que vivo.

Subo para trabalhar.
(Se eu tiver sorte, ela me escreve um livro.)

Por tudo e pelos nadas agradeço.
O livro ainda está bem no começo,
mas sei que posso, sempre, confiar.

Trabalhamos, brigamos, competimos.

De bom humor, a louca faz uns mimos,
me brinda com idéias delirantes
– que amanhã, ok, levo adiante.

Sobre o teclado, a imaginação
vê em minhas mãos um dinossauro:
o dedo médio é a cabeça.

Mas eu também estou em extinção,
eu sei. A louca não:
ela persiste
como se fosse eterna. Nunca fica triste.
Quando delira,
a louca está feliz.

A inspiração, que é minha outra lira
de sonhos e brinquedos, cordas tensas,
se estende para um jogo. A louca pensa,
avalia o convite e se recusa
a brincar de versejar, contar estórias.
“Vamos lá fora”,
me propõe, ciumenta:
“Agora é hora
de ver o sol se põr.”

Eu não queria ir, mas a idéia me tenta.
(No fundo, bem no fundo, a louca é um amor.)

À noite, depois de duas horas de TV,
ela me diz: “Eu sou muito melhor!
Desliga esse negócio, vem comigo.”
Respondo: “Eu vou. Quer ver? Duvida?
Espera um pouco, só.
Você sabe que sou obediente.”

A louca da imaginação se impacienta e mente:
“Se você não vier, eu vou embora!”
Suspiro e obedeço, novamente.

A louca nem espera para ver.
Confia em seu poder e vai em frente.

Vamos todos juntos para a cama.
De madrugada, a louca é uma lente
que permite de longe ver lembranças,
colori-las, distorcer, voar:
uns tristes planos, o que não se alcança,
uns amores que tive, umas desesperanças,
aquilo que inda quero, o que vou ter.

Ela me pega no colo e me aconchega:
“Não pense nisso, não. Por hoje, chega.
Amanhã começamos outra vez”.

A sensação, por fim, de bem-estar.

Eu espero e confio, confortada.
Sem ela, quem sou eu? Um zero. Um nada.

p.s.

Explicação: Claro q escovo os dentes ao acordar, como todos os habitantes humanos do mundo q se considera civilizado. Mas se a ordem das ações fosse fiel à realidade, "esbalda" e "lauda" ficariam mto distantes... Já "espreguiço" e "isso" não são afetados, trocando a ordem. O q fez de "mim" uma desescovada foi pura questão de rima!

Nota

"A imaginação é a louca da casa" foi o tema dado para a primeira "provocação" do Quinto Desafio Literário, promovido pela Câmara dos Deputados (Literatura de Câmara). Nesse 'desafio', a cada semana é eliminado um autor. A provocação consistia em escrever um poema q descrevesse um dia na vida da imaginação, da manhã até a noite. Achei o tema, dado pelo coordenador Marco Antunes, dificílimo para os participantes (sou jurada do concurso). Mas resolvi encarar o 'desafio' (se eles têm q fazer, eu preciso no mínimo ser capaz de tentar...) e deu nisso q postei aqui. O Quinto Desafio está em andamento (está em sua terceira semana). Abraço!