A Melodia de Pan
Um Hino para XV Kalendas Martias
Os sons dançam alegremente
Pelos lábios lépidos do sátiro
Que manipulam com destreza
E com gosto excitante
Syrinx, aquela que o rejeitara.
Sua língua manipula e circula
Com afeto, com desejo ardente
A flauta, o corpo de bambu
Daquela que fora seu grande Amor.
Ela que fugira dele, quando
Quando ele se apaixonou
Por aqueles belos olhos azuis
Azuis como o Mar da Arcádia
Ele queria apenas afagar
Os cabelos generosos
E assentá-la em suas pernas de bode
E poder olhar para os olhos brilhantes
Da ninfa, e saber que ela o amava
Mesmo com seus temidos chifres.
Não era ele Pan, o amado dos homens
E dos animais
E das mulheres ?
Aquele que saltitava com membro viril
Com a música silvestre, sorridente
Abençoando a todos com sua fecundidade ?
Todos não vibravam, com sorriso em rosto
E olhares fechados, mirando o desconhecido
Unidos em corpo e espírito com ele
Pan das mil campinas e mil bosques
O amado, que queria apenas amar ?
Pobre Pan, dos mil machos e mil fêmeas
Desce e pisa com cuidado
No obscuro mundo de Eros
Ele não é o mais complacente dos deuses
E seu submundo é mais cruel do que
As temidas possessões de Hades e Poseidon.
O Amor é egoísta e mesquinho
E mesmo com todas tuas boas intenções
Deuses e ninfas
Não oferecem seus prazeres
Àqueles que não são nem homens
Nem animais
Pobres
E fogem de forma avassaladora
Daqueles que amam com sinceridade
E que são medidos não pelo seu Amor
Mas pela sua aparência.
No rio Ladon, viu seu amor
Se transformar em meros bambus
Pelas perversas Naiádes
E tomando com afeto aqueles objetos
Que outrora foram sua Amada
Transformou-os em objetos do seu prazer
E agora, Syrinx lhe pertence
Estando sempre em seus lábios
Em uma permanente união de Amor.
O Solitário se isola na escuridão do Palatino
E mesmo entre chicotes e barulho
E as gargalhadas de seus serviçais
A suavidade dos sons do corpo de Syrinx
Ainda refrigeram sua alma.