CONFISSÃO
<poem>
Quem, quem poderia arriscar?
Eu e tu juntos?
Eu que tantas vezes te xinguei
te difamei e difamada
seguias intacta,
insensível aos meus rancores.
Eu que te imputei tantos crimes,
julguei e condenei
a dona das culpas, dos males
do câncer da geração.
Em ti esva o mal do século presente,
o mal do séquito vagante _
seres numerados, datados,
contidos em bitola estreita.
Quem tantas vezes declarou em público pública guerra, adjetivou, adjetivou... agora convive contigo. Quem, quem poderia arriscar? Me conhecendo me respondo: ninguém. Ninguém dirão os amigos que tive.
Hoje somos inseparáveis, casamento sem certidão que só a morte divorciará. Amiga do suor diário, passo-a-passo cotidiano, és companheira das filas, da feira, das festas, das fúrias, fas farras e dos bate-papos, prosas de bar.
Do disse-me-disse, não-disse, quem disse do final do dia, és agora minha parceira. E aquelas pragas, as penas, o antigo ódio, sumiram? Não, as culpas não as perdeste, apenas eu te as roubei e assumo todos os pecados, ó gravata de bolinhas.