Cabe?

De Sexta Poética
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O chacareiro não sabe bem ao certo se cabe nas crônicas da pandemia, que se propôs a escrever, registrar essa lauta refeição que ele vem de saborear a poucos instantes e metros. Numa casa construída não para morar fixo, mas para aos fins da semana ter onde pousar e espairecer do tumulto urbano, bastou uma sala-cozinha, um quarto com banheiro e deu. Explica-se o ambiente físico para dizer que os metros não são muitos. Da mesa, lugar central a partir do qual essa crônica se desenvolveria, à chaise (um toque de francês é conveniente para presumir certo conforto) onde essas palavras começaram a brotar vão dez metro, se muito.

O espaço é diminuto, mas a questão se cabe na crônica ou não não tem a ver com isso, trata-se do cabimento no sentido lógico; por menos que seja o chacareiro dado ao silogismo categórico, lhe parece razoável que sendo a pandemia uma lástima e dela sendo as crônicas, essas não combinariam com láureas. Que sente-se suserano, morador de um castelo suntuoso, compreende-se, é uma compensatória e está introjetado e registrado, mas se deixar embevecido assim cantando loas e boas pode soar excessivo. Por outro lado, até o Mequinho já perdeu a dama para o cavalo adversário, atire a primeira pedra quem nunca pecou... Pesando prós e contras, fica resolvido que sim, cabe.

Então vamos à crônica, vamos dar um Rewind (agora esse toque americano presumindo não sei que intenção) e play do início do relato dos fatos, que das crônicas são afinal o cerne, rem viventem (haja presunção). Que sejam os fatos o cerne há controvérsias. Uma delas aponta que os fatos narrados são mais desculpas, muletas, pretexto para as remissões, e tanto mais interessantes crônicas ficam quanto mais portas e janelas abrem, por onde se possa escapar, devanear, formular hipóteses, multiplicar o sentido.

Eureka! -: Rewind, pause, play, stop, fast forward… preview, rec, replay, a intenção desse anglicismo todo é, longe de qualquer intenção ligada ao manuseio do idioma de Shakespeare, simplesmente nesse movimento de voltar ao foco da crônica, resgatar o universo semântico que envolveu esse chacareiro durante três décadas, trabalhando numa ilha de edição de vídeo, indo e voltando, parando, gravando e conferindo.

Tanto floreio, tantos desvios, e está aí, o chacareiro esqueceu qual o prato delicioso, aquele que seria colocado no pedestal