Neve sobre Veneza
<poem>
A Neve sobre Veneza.
“Lua , espada nua , brilha no céu redonda e amarela , tão redonda Lua...como flutua...”
Sim , eu sei que parecia um milagre , mas era,.Nevava em Veneza.Você me ensinava a enrolar o cachecol no meu pescoço , e eu, alheio ao frio e à neve que caía , mirava perdido os teus olhos profundamente azuis, tentava eu dizer-te coisas fascinado , tantas coisas...te contei que estava apaixonado , que não queria te perder nunca, que estava simplesmente hipnotizado nos teus cabelos e que cada toque distraído dos teus dedos na minha nuca eram a tradução plena e infinita de felicidade.Listo...você disse , falava coisas para mim , iluminada !Contava das tuas andanças pela Europa e dizia com amor , como amava os cheiros dos lugares , que flertava com o cheiro do pesto nas paredes de Gênova , como viveu o aroma do carvalho nos barris de Borgogna , como sentia os odores dos liquens abraçados nas colunas de Veneza...nevava em Veneza ,você se lembra?
“Eu lembro dos cantos escuros , nos quais chorava na infância , os liquens sobre os muros , e as risadas à distância”...Te gustas Neruda?Você riu-se...que segredos sagrados esconderiam teu sorriso?Você é minha poesia...quer sonhar comigo?...diálogos bobos , neve sobre Veneza , coisas impossíveis acontecendo , sendo sonhadas em particularidades de sonhos vivos....é verdade..nevava em Veneza... Que então alguém traduza o silêncio que se desprende de um olhar...este instante que antecede o beijo..este silêncio que grita tantas coisas ,que dilata as tuas pupilas , que acelera meu coração , este momento de silêncio que constrói esta ponte entre nossos olhos , o instante de um olhar , da felicidade que se vive em um minuto , de um minuto capacidade!Que se traduz na saudade que se transforma o espaço entre o encontro dos nossos lábios, dessa saudade que não traduz tristeza , mas sim que desperta a força da vida , desta saudade que na verdade pulsa no pulso da vida que é simplesmente , nada mais que simplesmente, a palavra que reinvidica em si a felicidade!Saudade sentida agora, não é triste mas é saudade...que grita por uma felicidade que por uma coincidência maluca que não busco compreender,assim como a neve em Veneza, leva seu nome!Que é repetida quando cantada numa música de Tom Jobim , Luiza! Que assim cantada , talvez entoada novamente exorcize essa minha necessidade do teu beijo, desse beijo saudade que , a cada vez que nasce em tua boca torne-sa a reinvenção de felicidade... De alguma forma intrépido e vacilante tentei cruzar esta ponte entre nossos olhos e encontrar teus cílios nos meus , para que se entrelaçassem e formassem este texto , para que nos abraçássemos como as gôndolas que sobem juntas casco à casco com os caprichos das marés, eu tentei lhe tomar os lábios , como tantas vezes os sarracenos tentaram conquistar o espaço deste beijo , mas você se deteve e me abraçou, não entendi(porque eu nunca entendo nada!) e me rendi ao teu carinho, me perdi em você, assim como nas noites seguidas e para sempre, e agora desde então , tudo é saudade, e cresce como os liquens sobre os muros , você não percebe mas depois de um tempo , ocupa a parede...ocupa tudo...
Agora , tudo é saudade , como uma dimensão que se cria no sono de cada noite , que vivo à cada centímetro em que as sombras caminham no meu quarto deserto...é nestas noites que quase surdo escuto de novo Luiza!Amando-te em silencio , sozinho no escuro ouvindo novamente Luiza , por tantas horas , tantos dias, por tantas vidas se vivêssemos varias , vida nascida e criada entre as colunas de Veneza, sob a neve de Veneza , mas onde está você agora?Eu estou aqui relendo Amoz Oz “ Até os musgos da parede sentirão sua falta!”, sim os musgos da parede , a fita K7 de Tom Jobim , o Cd de Tom Jobim..o Mp3...de Tom Jobim , “Escuta agora a canção que eu fiz pra te esquecer Luiza!”...dessa musica, dessa saudade e da incompreensível tecnologia que avança com o tempo desta Poeira do Armário que encobre tudo , que me fossiliza no passado, que me faz gritar com a parede , te pedindo pra voltar pra mim esta noite!Faça nevar novamente em Veneza , me dá de novo aquele beijo!Seja de novo meu sonho minha saudade , deixa eu dar de novo um nome pra cada fio dos teus cabelos...e começar tudo de novo...afasta de novo meu lábios , arranca de novo minha luva e me faz perder nos teus cabelos, abraçado nos teus lábios..me deixa cantar de novo Luiza..numa noite de neve em Veneza...
“ Até os Liquens sobre os Muros sentirão a sua falta”
Callia callia