QUE ADIANTA?
<poem>
Que adianta a lembrança
se o que ela me traz
é senão mais outra
mais outra, mais outras
difíceis lembranças?
Que adianta a memória que busca rebusca e acha mais de si perdida em si mesma sem achar função ou não de existir?
Que adianta buscar nesse descaminho o nosso caminho se o que nos aguarda são mais descaminhos mais outro, mais outros possíveis caminhos?
O que adianta abrir janelas e portas se por trás das portas há quartos vazios e portas fechadas e quartos vazios e portas fechadas e quartos vazios sem que eles contenham nossas soluções ou ente divino que mostre a razão de tanta lembrança de tanta procura da sem solução de nossas perguntas?
Que adianta fazer fazer refazer se tudo foi feito e depois de feito ficou pelo não pelo nunca feito?
II
Que adianta o passado se o que me ensinou sem que houvesse ensino foi só esquecê-lo negá-lo, negá-lo pra sempre negá-lo?
Que adianta o presente se escorrega sempre e antes que possamos ao menos tocá-lo quem dirá contê-lo?
Que adianta o futuro se não há projeto que não vá por terra bem antes de erguido que seja mantido por apenas um ou meio minuto que antes de nascido já não esteja em luto?
III
Que adianta pensar vãs filosofias se tudo foi dito para que se cumpra a divina ordem do alto tão alto mais alto que o céu mais longe que eu estou de mim mesmo?
Que adianta lançar vãs artilharias sobre o que há de errado sobre o desumano que se diz humano se o certo e o errado foi delimitado noutra prelazia?
Falar ou gritar, chorar valeria?
Que adianta, que adianta? Quero fadas boas ou bruxas malvadas demônios ou santos quanquer um que diga o que nos adianta nossa própria vida se o destino fia após um, dez, mil sempre outro dia sem que teça algum fio de alegria.