Sagração da banana
<poem>
N’outro dia ao vê-la desidratada,
Plastificada, código de barras e coisa e tal,
Pareceu-me dieta de astronauta,
Longe de toda uma infância de cheiros
E lembranças fagueiras de quintais.
Houve, portanto, tempo,
Em que disputava com os pássaros
As primeiras aparições amarelo-bandeira,
Sabia, já, então, ser hora de cortar
Aquele umbigão chamado mangangá.
Sabia, já, àquela época,
Não ser a banana patrimônio universal,
Posto que há nações encravadas em neves,
Eternas geleiras, coitados dos esquimós...
Soube de histórias de que meus avós...
Bananas, bananas, bananas...
Eram mais fartas do que filhas Anas,
Marias, Odetes, Filomenas...
Nordestinas proles, da era da pataca,
Quando nem se imaginavam anticoncepcionais.
Nas feiras, já quase passadas,
Pingando ouro no fundo dos jacás,
Foram-se os mercados públicos
E com eles a noção de carestia,
Hoje, banana carece poesia.
Ouro, prata, maçã, nanica... E havia também a de fritar. Banana da terra e terras bananeiras E até as repúblicas alimentadas a golpes De facões e jatos de suor e seiva.
E assim, ao vê-la codificada de pós-modernidade, E a preços tão impróprios para o povo, Protesto, quero os meus quintais de volta E a tua velha reputação de seres popular E tão barata quanto os perfumes do povo.