Y asi pasan los dias
Tudo é desafio, tudo nos convida ao enfrentamento.
“Veja a diferença de como é tratado um traficante e um trabalhador”, dizia a legenda. “Revoltante”, foi o comentário que fiz ao responder a mensagem com um vídeo essa semana. Mostrava uma cena de audiência de custódia com um traficante que se declarou, assim como se desse uma “carteirada”, integrante do PCC (Credencial e tanto)— e comparava com outra audiência, essa com um gerente subalterno encarregado de uma empresa qualquer. Não dizia qual, nem isso tinha importância. A petulância do traficante, e a arrogância de declarar “não tô nem aí” para provável condenação, deixou claro a ineficiência do Estado em assegurar o cumprimento da lei. Preso hoje, nas ruas mês que vem. Ao responder se ameaçara dar um tiro em alguém, respondeu sem cerimônia “falei e repito, pode me prender, vou mandar meus moleques lá na casa dele dar tiro mesmo”… Compreende-se o cuidado respeitoso do agente da Justiça que estava fazendo o interrogatório, somos todos mortais e é próprio do ser humano se preservar. Incompreensível foram os modos do outro interrogador, em situação similar mas comportamento oposto, uma agressividade e uma virulência que mais parecia estar tratando um cão vadio num país que não existisse a Sociedade Protetora dos Animais. Incompreensível e revoltante. Numa palavra, uma caricatura retratando a inversão de valores que vivemos nessas décadas iniciais do século XXI. O desafio aqui é não desesperar, pagar seus impostos e acreditar que amanhã será melhor.
Mas nem só de assuntos maçantes o sininho da notificação do celular toca avisando a entrada de mensagem no WhatsApp. Um amigo me propôs um desafio bem mais interessante. Não sei se vai te parecer assim, leitor ávido, mas pra mim foi, principalmente pelo prêmio caso eu atingisse o objetivo. Na fotografia de um frondoso abacateiro, o desafio era descobrir dois frutos “do tamanho de uma biloca”. Aos mais novos é preciso explicar (e para o público feminino, posto se tratar de uma brincadeira de meninos): biloca é como os mais antigos chamavam as bolinhas de gude. O prêmio era animador. Ganhava os abacates e, o que era melhor, com frete grátis, os abacates seriam entregues aqui na chácara. O leitor perspicaz já percebeu, os verbos no pretérito imperfeito e no futuro do pretérito já denunciaram que eu não obtive sucesso.
Y asi pasan los dias…
Em uma pausa das crônicas e emergindo de uma partida de gamão, recebo uma mensagem que paga o dia, um link para uma página com a seguinte legenda: “Estradas Imperdíveis de São Paulo a Santa Catarina”. Ao ler, imaginei que leria um relato do trajeto entre os dois estados e oba! vou comparar com o que eu já fiz, muitas linhas de texto garantidas. Um cronista com C maiúsculo talvez não precisasse desses expedientes, mas um chacareiro que achou no escrever crônicas um modo agradável de “pasar los dias“, momentos de enfado durante o isolamento da pandemia, não só precisa, depende disso. A comemoração durou pouco, porém. A legenda engana, na verdade a página traz muito mais que o relato de uma modesta viagem do Sudeste ao Sul do Brasil. Ou melhor, a legenda está correta, mas se refere a uma das muitas viagens de um motoqueiro. Trata-se de um blog no qual ele expõe toda uma experiência ede vida, na qual uma tal viagem coube. Vejam o que não faz o afã de encontrar a ponta do novelo! Não li a sublegenda: “Blog sobre viagens de moto com destino certo e predefinido”. O site tem um menu de navegação com várias possibilidades. Na aba “Eu” o autor relata sua trajetória de vida. Interessante, sem dúvida alguma, mas dei com os burros n’água.
A mensagem já serviu entretanto para me remeter dois anos atrás, desafio e aventura, eu descendo no mapa do Brasil, depois de ver as pinturas rupestres no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, subir no Morro do Pai Inácio, na Chapada Diamantina, adentrar a gruta Rei do Mato em Sete Lagoas, me assombrar no útero da mãe-terra em São Tomé das Letras, do Sul de Minas passar ao Estado de São Paulo, cortar por dentro, beirando o Aeroporto Viracopos, deixar o planalto paulista em direção a Sorocaba, conhecer Capão Bonito, o Vale do Ribeira e as belíssimas Quaresmeiras da estrada, passar ao Paraná, descer a Serra do Mar de Curitiba a Joinville e finalmente chegar na Ponta da Vigia, molhar os pés na Praia Grande, em Penha, SC.
Uns mais lúdicos, outros mais sisudos, tudo é desafio, tudo é emoção. No gamão, a vitória está praticamente assegurada mas vai que para o adversário na última jogada os dados saem 6-6. Y asi pasan los dias.